
Natureza Morta com Doces e Barros
Josefa de Óbidos - 1676
Sozinho no mundo, assim estava Pedro em finais de 1691. Com apenas vinte anos, órfão de pai, mãe, padrasto e avós, o jovem ficara com a pesada tarefa de tratar do futuro dos irmãos mais jovens e ainda gerir a grande propriedade que lhe coubera em herança. A primeira atitude que tomou foi de emendar o nome. A partir de agora assinaria como "Pedro Pires de Sá". Não lhe tinham dito sempre que descendia dos Sás de Vila do Conde? Pois então iria assumir o nome de família que lhe vinha por parte dos bisavós paternos. Agora que pensava nisso, interrogava-se sobre a estranha morte do pai. Morrera de repente, devido a um acidente de cavalo. Um vizinho tinha-o encontrado sem vida na estrada, aparentemente em consequência da queda que sofrera, e veio dar a notícia. Nunca conhecera o pai e tão pouco os avós maternos. Parecia que a mãe esquivava-se de falar neles. Mas sabia que o avô António era homem do mar. Talvez fosse essa a razão por que Isabel raramente falasse nele. Era filha de um casamento já tardio, em que a ausência paterna era sentida durante largos meses. E isso levou a que alimentasse algum ressentimento, mas nunca viria a saber com certeza, nunca tivera muito à vontade com a mãe.
O que sabia agora era que teria de tratar do futuro dos irmãos, arranjando-lhes bons casamentos e a tal carreira militar para o João. Sim, o futuro do João já tinha sido decidido. Seria capitão e partiria para o Brasil. Uma viagem só de ida, da qual nunca mais regressaria ...