21.2.07

Isabel

Isabel nascera do acaso. O seu corpinho franzino denunciava as sequelas de uma infância difícil, em que a palavra Amor tinha um significado que ela ainda não descobrira após quase meio século de vida. Aquando do seu nascimento, tornara-se óbvio para todas as pessoas a viver naquela casa que a criança viera ao mundo para sofrer, e quando o pai a colocou aos cuidados de uma prima distante, às vésperas de embarcar para o Brasil, surgiram com nitidez, na mente de cada uma das pessoas que se encontravam naquela sala, os presságios de uma vida difícil, que se concretizariam num longo historial de abandono e solidão. O seu calvário, aliás, começara quando ela mal tinha chegado ao mundo, com a morte da mãe em consequência das mazelas do parto ... Eu nunca reparara em Isabel com a devida atenção que ela merecia. Na verdade, a sua aparência demasiado frágil sempre me provocara algum mal-estar. Nunca percebera muito bem porque tinha as pernas tão finas e uma cabeça tão desproporcional em relação ao corpo, o qual parecia não conseguir controlar muito bem. Não fora já a Natureza suficientemente madrasta para com o seu aspecto exterior e ainda tinha de suportar o facto de não conseguir caminhar com naturalidade. Com efeito, o seu andar dava o toque final à sua frágil figura, movimentando-se Isabel como se fosse um boneco desajeitado, articulando braços e pernas como se estivesse a ser manipulada por cordas de marionetes, num absurdo teatro em que ela era a personagem trágica. De tal forma era bizarro o seu andar, que quem não a conhecesse, poderia pensar que ela se tinha em muito alta conta, tamanho era o esforço que fazia para manter a cabeça erguida. Mas o que mais me impressionava em Isabel era a sua dificuldade em articular uma frase, sem que, para isso, tivesse que fazer um grande esforço. É curioso. Eu via inteligência em Isabel, mas os defeitos no seu corpo faziam com que todos pensassem que ela tinha algum tipo de deficiência mental. Até então eu não me dera ao trabalho de conjecturar sobre a vida daquela mulher e tentar descobrir o porquê de, tantas vezes, ela vir ter comigo para conversar, mas suponho que tal se devesse ao facto de eu sempre me ter revelado cordial para com ela e, não raras vezes, distanciar-me das atitudes e pensamentos da minha avó, por quem Isabel, por mais graves que tenham sido os desmazelos da minha ascendente, sempre demonstrara um sentimento de gratidão, por ter sido a única pessoa que cuidara dela na infância ... Sim, a minha avó herdara o fardo de a criar ainda sequer tinha completado trinta anos, e talvez por isso Isabel haveria de pagar o preço, por ter sido o objecto de uma boa acção que a minha avó nunca pretendera realizar, mas que, por razões familiares, lhe tinha sido imposta no leito de morte da sua mãe.

9.2.07

Out of this World

I'm praying for rain
I'm praying that you'll come to your senses
Because whilst you bask in the warmth of the sun
You're vulnerable and defenceless

There are so many people
Who come to depend on you
There are even some Impressionable Fools
For whom you are a guru

And you turn to them and you say
Love is in the season
But the seasons change
Then what will you believe in?

When the winter comes
That's when I'll be leaving
I leave to find a way
To break out of this world
Yes, there's got to be a way
To break out of this world

You won't burn out
Yours is a love that smoulders
So why do you feel
That you're carrying the weight
Of the world upon your shoulders?

Not that it amounts too much
But I'd help you if I could
Now don't waste your breath
Refusing my help
That's already understood

And you turn to me and you say
Love is in the season
But the seasons change
Then what will you believe in?

When the winter comes
That's when I'll be leaving
I leave to find a way
To break out of this world
Yes, there's got to be a way
To break out of this world

Out of this World - Edwyn Collins