
A pesquisa tinha chegado a um beco sem saída. Não era possível avançar sem tentar conhecer mais pormenores acerca dos antepassados já descobertos e esses pormenores estavam enterrados algures, nalgum livro abandonado, num qualquer arquivo de província. As raparigas tinham decidido interromper a sua viagem no tempo. Era Natal e, embora estivessem de férias, não podiam dedicar-se tanto quanto queriam a essas actividades. Na verdade, as pesquisas davam muito trabalho e tempo era algo de que ambas sentiam muita falta. Ainda para mais, nos arquivos, nada estava organizado como elas gostariam que estivesse. A caligrafia dos documentos originais era, regra geral, péssima e, em muitos casos, impossível de ler. Luísa brincava dizendo que o padre devia ter bebido um bocado naquele dia, porque o livro tinha marcas de líquido entornado. Pior era quando os livros exibiam traços de fogo, de alguma fagulha que se desprendeu da lareira. Aquilo deixava-as profundamente tristes. Realmente, havia pessoas que eram muito descuidadas. E isso ficava-se a saber, mesmo trezentos anos depois ...
Porém, em vez de desanimarem, estas constatações apenas aguçavam ainda mais a curiosidade das primas. Esperavam ter elementos suficientes que as pudessem transportar ainda mais longe no tempo. Luísa já tinha experimentado essa sensação. Tivera em mãos um livro do século XVI. Como era difícil compreender aquela linguagem. Esperava que um golpe de sorte a iluminasse, de forma a compreender aquelas letras arcaicas, como naquela cena da Bíblia, em que, abençoados pelo Espírito Santo, os apóstolos começaram a falar línguas estrangeiras. Por mais obstáculos que se interpusessem à sua frente, elas não iriam desistir. Tinham sido contaminadas pelo vírus do Conhecimento, e agora que, finalmente, tinham encontrado o fio de Ariadne, nada as impediria de entrar no complexo labirinto do Tempo.