
Há muito tempo que queria pôr este título numa das minhas mensagens, mas sempre que tentava fazê-lo, acabava por pensar: "Ainda não está na hora, espera pela altura certa", e então ia adiando. Até que chegou o dia em que encontrei a inspiração divina que faltava para esta minha ambição. É que, pelos vistos, Portugal acordou do seu sono secular e descobriu que tem um grave problema energético. E quem é que surge das brumas para fazer o papel de salvador da pátria? Ora, quem mais senão Patrick Monteiro de Barros, o "especialista em petróleo", segundo as legendas do Jornal da SIC. Se bem compreendi, Monteiro de Barros pretende convencer o governo a instalar uma central nuclear em Portugal, seguindo a lógica de que "se a maioria dos países tem, incluindo a Espanha, porque é que nós não haveríamos de ter uma?"
Pelos vistos, Monteiro de Barros não é o único nessa cruzada a favor do nuclear, sendo apoiado por vários outros empresários nesta ideia. Pronto, estou mesmo a ver: o senhor do petróleo chegou à conclusão de que depender do ouro negro já não estava a dar. Os árabes andam a dificultar a vida aos ocidentais, os chineses andam a correr atrás do petróleo como doidos, contribuindo para o aumento dos preços, e as reservas não são eternas. Vai daí, teve a brilhante ideia de, antes que a coisa desse para o torto, propor a energia nuclear como alternativa. E então, vem a SIC e faz a reportagem, tão bem feitinha, tão bem feitinha, que eu diria que aquilo era mesmo para convencer o zé povinho. Porque se bem me lembro, a energia nuclear não é essa maravilha toda que eu vi na reportagem. Por exemplo, ninguém mencionou o lixo nuclear, o tratamento dos resíduos, muito menos os custos de construção de uma tal estrutura. E depois, fiquei a pensar se a um país com a dimensão de Portugal compensa esse tipo de alternativa ...
Pronto, eu confesso que tenho aversão à palavra "nuclear". Eu sei que não entendo nada do assunto, mas dificilmente me irão convencer de que esta forma de energia é mais segura e económica do que outras. Fiquei com a impressão de que o Monteiro de Barros, talvez na iminência de ver o negócio da sua vida ir por água abaixo (salvo seja), agarrou-se à ideia do nuclear porque é a alternativa que mais convém a ele e aos "amigos", mas tenho sérias dúvidas se será a melhor para o país. Enfim, mas atendendo a que, em primeiro lugar, estão sempre os "negócios da família", como acontece frequentemente em Portugal, se calhar é mesmo para aí que caminha a opção da elite governante ...
É que, para mim, a palavra "nuclear" está ligada a um dos períodos mais negros da minha vida, ao ano de 1986, o "annus horribilis" - como diria a outra senhora - da minha modesta história. Foi o ano em que teve início a minha primeira grande depressão, em que perdi completamente a ilusão de viver. Foi um ano difícil, tão difícil que cheguei a pesar 49 kgs, medindo 1.70 mts de altura, e depois de atingir tal peso não tive sequer coragem de voltar a pesar-me novamente, com medo de ter perdido ainda mais peso. Portanto, 49 kgs. foi o meu peso oficial desse período. E há coisas que, nesses momentos difíceis, ficam inexplicavelmente associadas para o resto da vida. Uma delas foi o acidente de Chernobyl, outra foi uma música que, na altura, devia andar nos tops, mas que eu não suportava ouvi-la, porque me deixava triste (enfim, em 1986, tudo me deixava triste). A canção tornou-se de tal modo insuportável para mim que, ainda hoje, quando calha de a ouvir no rádio, eu mudo logo de estação. Eu sempre soube que o grupo que a tocava chamava-se Big Audio Dinamite, em que participava um elemento dos Clash, mas nunca me dei ao trabalho de saber o nome da canção. Ironicamente, anos depois, descobri que o tema chamava-se "E=mc2". Afinal, eu tinha mesmo motivos de sobra para não gostar da canção. Enfim, as pessoas normais poderão pensar que detestar uma música não pode justificar a aversão ao nuclear, mas para mim ... não há coincidências ...