31.10.05

Other Voices



Whisper your name in an empty room
You brush past my skin
As soft as fur
Taking hold
I taste your scent
Distant noises
Other voices
Pounding in my broken head
Commit the sin
Commit yourself
And all the other voices said
Change your mind
You're always wrong
Always wrong

Come around at christmas
I really have to see you
Smile at me slyly
Another festive compromise
But I live with desertion
And eight million people
Distant noises
Of other voices
Pulsing in my swinging arms
Caress the sound
So many dead
And all the other voices sing
Change your mind
You're always wrong

The Cure

18.10.05

The Pan Within


........................................................... Desenho de "Mar Submerso"

Come with me
On a journey beneath the skin
Come with me
On a journey under the skin
We will look together
For the pan within

Close your eyes
Breathe slow we’ll begin
Close your eyes
Breathe slow and we will begin
To look together
For the pan within

Swing your hips
Loose your head, and let it spin
Swing your hips
Loose you head, and let it spin
And we will look together
For the pan within

Close your eyes
Breathe slow and we will begin
Close your eyes
Breathe slow and we will begin
To look together
For the pan within

Put your face in my window
Breathe a night full of treasures
The wind is delicious
Sweet and wild with the promise of pleasure
The stars are alive
And nights like these
Were born to be
Sanctified by you and me
Lovers, thieves, fools and pretenders
And all we gotta do is surrender

Come with me
On a journey under the skin
Come with me
On a journey under the skin
And we will look together
For the pan within
When to be with you
Is not a sin
When to be with you, oh just to be with you
Is not a sin
We will look together
For the pan within

Waterboys

11.10.05

O Cativo



I
Os mouros me cativaram
Entre a paz e a guerra
Me levaram a vender,
P'rá Argelim, que é sua terra

II
Não houve perro nem perra
Que o comprar me quisera
Só o perro de um mouro
A mim só comprar havera.

III
De noite a moer esparto
De dia a pisar canela
Punha-me um freio na boca
Para eu não comer dela

IV
Mas parabéns à ventura
Da filha ser minha amiga
Quando o perro ia à caça
Comigo se divertia.

V
Dava-me a comer pão branco
Do que o perro comia,
Deitava-me em catre de ouro
Junto comigo dormia

VI
Um dia pela manhã
Mil branquinhas me trouxera:
- Toma lá meu bom cristiano
Resgate para tu terra.

VII
Vem-te cá, ó meu bom turco
Vem-me agora aqui ouvir
Toma lá este dinheiro
Para me eu redimir

VIII
- Vem-te cá Angela, filha;
Dize-me aqui a verdade,
Se o bom do cristiano,
a ti deve a liberdade?

IX
- Deixa-o ir, o bom cristiano
Que ele a mim não deve nada
Se não for a flor de mi boca
Que a dou por bem empregada.

Brigada Victor Jara

4.10.05

O Verão Quente


Aquele era o último fim-de-semana. A viagem de regresso a casa estava marcada para a terça-feira seguinte. Os últimos dias foram, por isso, um reboliço total, a andar de feira em feira para fazer as compras de última hora e a empreender as visitas finais, de cortesia e não só, aos familiares e amigos. Eu, como sempre, acompanhava as mulheres e ajudava-as nas suas ocupações. Sempre me sentira suficientemente adulta para estar junto das mulheres mais velhas, ainda que tivesse apenas oito anos. E a minha mãe reforçava esse sentimento, fazendo-me sentir que ela confiava em mim.

Naquela manhã, a mãe de Bruno também viera acompanhar as restantes mulheres. Oferecera-se para ajudar a minha mãe nas compras e deixara o filho doente em casa por algumas horas. Não que houvesse motivos para estar muito preocupada. Na verdade, o rapaz andava sempre doente, pois não se alimentava nada bem, e, como tal, estranho mesmo era ele não estar doente. Na família, comentava-se, em surdina, o facto de ela ter escolhido um nome tão estranho para o filho. Que raio de ideia de chamar Bruno ao rapaz! Porque não chamar João, José ou Manuel, como tinha sido tradicional até então? Mas Bruno? Já não bastava virem com aquelas manias do estrangeiro, e agora até nomes estranhos punham aos filhos! E, ainda por cima, a mulher veio com aquela história de que na Alemanha não deixavam registar nomes portugueses, então pôs Bruno, tudo por culpa das autoridades alemãs! É claro que ninguém acreditava nessa versão dos factos. A verdade é que a mulher gostara do nome e, para não entrar em conflito com os sogros, inventou semelhante desculpa.

À tarde, depois do almoço, fui visitar o rapaz adoentado. Lá estava ele, estendido na cama, com um ar muito sofredor, mas, não sei bem por que razão, por mais que ele fizesse caretas, eu não acreditava muito naquilo. Reparei numa peça que estava em cima da cómoda. Era a miniatura de uma cidade, em acrílico, dentro de uma redoma repleta com água. Quando se agitava a água, flocos de neve caiam por cima da cidade. Achei aquilo bonito, nunca tinha visto uma peça daquelas. Nem a peça, nem a neve.

Foi então que me lembrei de desafiá-lo. Tantas vezes o rapaz me levara para as brincadeiras, que agora era a minha vez de tomar a iniciativa. Sentei-me à beira da cama e, puxando os lençóis, fui dizendo: "Coitadinho, está tão doente ...". O rapaz ficou furioso. Não sei se, por eu desdenhar dele ou por ele não estar de pijama, a verdade é que, segurando com força os lençóis, disse-me: "O que estás a fazer? Não vês que eu estou só em cuecas?". Interrompi logo a brincadeira, não esperava uma tal reacção. Eu reparara que ele tinha ficado zangado com o meu gesto, mas, mesmo assim, não estava disposta a abdicar. Perguntei-lhe: "Então, tens vergonha de mostrar as cuecas?" - e ameacei puxar os lençóis de novo. Ele repeliu-me com força. Era óbvio que naquele dia, não estava para brincadeiras. Fiquei furiosa. Sempre com tantas brincadeirinhas, sempre tão simpático e atencioso e agora, por uma coisinha de nada, fazia-se de virgem ofendida. Pois quem ficava ofendida era eu! Levantei-me e disse-lhe que me ia embora. Ele ainda perguntou-me se não voltava na segunda-feira para me despedir. Por um instante, pareceu-me que estava arrependido. Respondi-lhe que não. E não voltei mesmo.