
Desde sempre, convivi com pessoas que sofrem de epilepsia. Lembro-me que, quando era pequena, tinha medo do meu vizinho - apesar de ele ser boa pessoa - tudo porque ele sofria muitas vezes de fortes ataques epilépticos. Na altura, não compreendíamos a doença e as pessoas diziam que ele era louco. Eu achava estranho, porque um louco, para mim, na altura, era uma pessoa má - tipo cientista louco - mas aquele rapaz não aparentava nada ser aquilo. Mesmo assim, por via das dúvidas, evitava-o. Alguns dos ataques que ele sofria, deixavam-no verdadeiramente magoado, como daquela vez em que estava a subir a escadaria de sua casa e sofreu o ataque ali mesmo, a meio dos degraus. O baque foi tão forte que na altura julguei que tinha sido um pequeno sismo. Quando corri para fora e olhei para a casa ao lado, vi-o estendido no chão, com uma poça de sangue a sair da cabeça. Pensei que ele tinha morrido. É uma imagem que nunca mais me saiu da memória. Apesar da gravidade dos ferimentos, ele recuperou-se. Lembro-me de ter ficado alguns dias a pensar como é que os médicos teriam colado as partes do crânio ...
Anos mais tarde, já na adolescência, viria a descobrir que a minha melhor amiga da escola também sofria de epilepsia. O curioso é que só descobriria isso passados alguns anos, dado que me lembro apenas de uma única crise. Ela nunca contara nada a ninguém ...
Outras pessoas, porém, gostam de fazer alarde desse tipo de problemas, na tentativa de manipular aqueles que vivem à sua volta, como era o caso de uma senhora que costumava ter crises frequentes, supostamente de epilepsia, mas cujo problema imediatamente ficou resolvido assim que obteve o divórcio do marido ...
No entanto, a situação mais curiosa de que tive conhecimento foi a de um rapaz que sofria ao mesmo tempo de epilepsia e sonambulismo. A mãe contava que durante a noite, por vezes, o filho levantava-se e ia para a rua, a dormir. Como não podia deixar a chave na porta, a mãe escondia-a para que o filho não a pudesse usar. Ora, estranhamente, por mais locais em que a mãe tentasse ocultar a chave, o filho acabava sempre por descobrir. Até que, por fim, ela decidiu guardar a chave dentro de uma gaveta com fechadura. É então que, uma noite, acordou com o barulho do filho na sala. Levantou-se e encontrou o rapaz com os olhos fechados a apontar para a gaveta onde ela escondera a chave, ao mesmo tempo que dizia: "Está ali, está ali" ...